Infelizmente muitos dos
conceitos gerados durante todos esses anos, são difíceis de serem alterados.
Infelizmente a idéia de que um Espírito na Umbanda está em evolução, através da
sua manifestação no corpo de um rodante, cavalo, elegun e tantos outros termos,
é colocar o ser humano em um patamar elevadíssimo de mais, o que não condiz com
a verdade. Creio que muitas dessas entidades que se apresentam no segmento
religioso denominado Umbanda, não precisam evoluir, já são evoluídos dentro de
suas funções espirituais e seus campos de atuação. Na verdade, a manifestação
dessas entidades em nossos corpos é para a nossa evolução pessoal, somos nós
que evoluímos, nós que somos doutrinados e nós é que precisamos de auxilio.
As histórias de muitas
destas entidades nos remetem a sofrimento, a situações que somente pessoas com
alto grau de evolução poderiam suportar, histórias que talvez nós não
suportássemos e através da compreensão que tiveram de tudo que passaram em sua
estadia terrena; é assim que se tornam entidades e eternos conselheiros da
humanidade, pois de alguma forma atingiram um alto grau de compreensão e
evolução.
Hoje falaremos um pouco
sobre a linha de Malandros, cujo surgimento ainda é uma grande incógnita e
muitos não consideram esta linha de trabalho; mas não podemos nos esquecer de
que a espiritualidade é muito mais ampla do que imaginamos.
A linha de Malandros
possui uma relação com a história da abolição da escravatura: a partir do
momento que homens e mulheres negras estavam libertos, tiveram a necessidade de
sobrevivência. Esta linha simboliza a inclusão, a não classificação e separação
de pessoas através de sua cor, classe social e religião. Os nomes
geralmente utilizados por essas entidades estão relacionados aos locais de
trabalho, ou de morada, ou origem, ou condição de vida durante a estadia dos
mesmos na Terra, e por isso é comum vermos nomes como, por exemplo, Sete
Navalha, que é uma associação ao jogo de capoeira, muito comum naquela época e
Zé do Cais que faz uma associação ao meio de trabalho no porto e outros, que
veremos a frente.
A linha de Malandros
simboliza a luta constante pela sobrevivência, a não desistência, a resistência
e conquistas.
Simbolizam assim, o
equilíbrio de todas as emoções, dos sentimentos, o simbolismo de que, mesmo que
hoje as lágrimas corram de nossos olhos, sempre encontraremos um momento de
felicidade, ou seja, é o encontrar a felicidade até mesmo dentro do sofrimento,
assim ele se torna nulo.
Esta linha nos ensina
isso e infelizmente não temos tal compreensão.
A linha de Malandros
possui muita similaridade com a linha de Exú e muita similaridade com outras
linhas. Os Malandros estão relacionados à esperteza, flexibilidade, agilidade,
raciocínio lógico, persistência atuando assim nos campos relacionados a
problemas de justiça, amor, dinheiro, abertura de caminhos e saúde.
Entidades da linha de
malandros:
Zé Pelintra, Zé Malandro,
Zé do Côco, Zé Moreno, Zé Pereira, Zé da Silva, Zé Pretinho, Zé da Encruza, Zé
do Cais, Malandrinho, Malandro, Camisa Preta, Camisa Listrada, Sete Navalhas,
Malandro do Morro, Sete Facas, Sete Esquinas, Maria Navalha, Maria do Cais,
Maria Sete Ferros, Malandro das Almas, Sete Cadeados e tantos outros.
Muitos antigos relatam
que no inicio, os toques destinados a Malandros em alguns lugares não possuíam
o uso de atabaques e sim, apenas o uso de instrumentos como agogô ou
improvisados como garrafas e muitos traziam pontos que eram entoados no ritmo
de samba. Já em outros relatos, falam justamente do uso de atabaques.
O uso de vestimentas tais
como camisas listradas nas cores vermelho e branco, branco e preto, ou a
roupagem branca, fazem uma alusão ao samba, a capoeira, a boemia, a esperteza,
agilidade, ou seja, a malandragem em si. Como sabemos, a capoeira e a
malandragem possuem uma relação estreita, pois a mesma estava relacionada à
sobrevivência do povo negro, que ao praticar esse esporte, eram considerados
malandros ou vadios, em uma época não muito distante. O terno branco poderia
simbolizar que aquele era um exímio capoeirista, aquele que possuía agilidade,
esperteza e que sabia sair da roda de capoeira sem nenhuma sujeira em suas
vestes e ainda poder festejar na boemia.
O lenço no pescoço
simbolizava o malandro perigoso, aquele que estava ou estaria disposto a uma
briga de navalha.
A presença de elementos
tais como dados, punhais, navalhas, baralhos, lenço, camisas listradas, ternos,
todos estes elementos estão relacionados à história de vida destas entidades,
seus comportamentos e principalmente, simbolizando que, apesar das dificuldades
apresentadas na vida, tudo se torna melhor sendo enfrentado com dignidade, com
alegria, com fé e com esperança sempre em dias melhores. É isso que esta linha
nos ensina.
Leia o texto a seguir:
REPRESENTAÇÃO E ORIGENS
Personagem bastante conhecido seja por
freqüentadores das religiões onde atua como entidade, por sua notável
malandragem, Seu Zé tem sua imagem reconhecida como um ícone, um representante,
o verdadeiro estereótipo do malandro, ou porque não dizer, da malandragem
brasileira e mais especificamente, carioca. Trata-se de uma corrente que, de
uma forma ou de outra, permeia o imaginário popular da cultura brasileira e,
portanto, carrega suas egrégoras tanto como outras.
Um do seu maior destaque está justamente no fato do
Seu Zé ter uma tremenda elegância e competência, mesmo sendo negro (levando em
consideração que, para a época em que os negros e brancos viviam praticamente
isolados, apesar da existência de uma numerosa população mestiça nas grandes
cidades brasileiras, e que desse abismo social implicava também uma grande
divisão financeira de classe social). É como se a figura do Seu Zé torna-se
representativa da própria dignidade do negro, deixando para trás a idéia de um
negro “arrasta-pé”, maltrapilho ou simples trabalhador braçal.
Em sua origem, Seu Zé torna-se famoso primeiramente
no Nordeste… Primeiro como freqüentador dos catimbós e, depois como entidade
dessa religião. Vale destacar aqui que o Catimbó está inserido no quadro das
religiões populares do Norte e Nordeste e traz consigo a relação com a
pajelança indígena e os candomblés de caboclo muito difundidos na Bahia.
Conta-se que ainda jovem era um caboclo violento que
brigava por qualquer coisa mesmo sem ter razão. Sua fama de “erveiro” vem
também do Nordeste. Seria capaz de receitar chás medicinais para a cura de
qualquer mal, benzer e quebrar feitiços dos seus consulentes. De acordo com
Ligiéro (2004), Seu Zé migra para o Rio de janeiro onde se torna nas primeiras
três décadas do século XX um famoso malandro na zona boêmia carioca, a região
da Lapa, Estácio, Gamboa e zona portuária. Segundo relatos históricos Seu Zé
era grande jogador, amante das prostitutas e inveterado boêmio. Contudo, há outra história que conta que Seu Zé teria nascido no povoado de
Bodocó, sertão pernambucano próximo a cidadezinha que leva o nome de Exu, à
qual segundo o próprio Zé Pilintra quando manifestado numa mesa de catimbó, foi
batizada com este nome em sua homenagem, já que sua família era daquela região
antes mesmo de se tornar cidade. Fugindo da terrível seca de meados do século
passado que abatia todo o sertão, a família do então “José dos Santos” rumou
para a Capital Recife em busca de uma vida melhor, mas o destino lhe pregou uma
peça que culminou com a morte da mãe, antes mesmo que o menino Zé completasse 3
anos. Logo em seguida, morreria seu pai de tuberculose.
José então ficou órfão e teve que enfrentar o mundo
juntamente com seus sete irmãos menores. Cresceu no meio da malandragem,
dormindo no cais do porto e sendo menino de recados de prostitutas. Sua
estatura alta e forte granjeou-lhe respeito no meio da malandragem. Conta-se
que, certa vez, Zezinho, como também era conhecido, teve que enfrentar cinco
policiais numa briga no cabará da Jovelina, no bairro de Casa Amarela. Um dos
soldados recebeu um corte de peixeira no rosto que decepou-lhe o nariz e parte
da boca. Doze tiros foram disparados contra Zezinho, mas nenhum deles o
atingiu. Diziam que ele tinha o corpo fechado. Antes que chegassem reforços,
Zezinho já tinha fugido ileso, indo se esconder na casa do coronel Laranjeira,
um poderoso usineiro pernambucano, protetor do rapazote e família. Em
decorrência deste episódio, Zezinho ganhou o apelido de Zé Pilintra Valentão,
nome esse dado pelos próprios soldados da polícia pernambucana. Assim, entre
trancos e barrancos, Seu Zé consegue fazer fama na cidade de Recife e criar
seus irmãos até a maior idade.
Quanto a sua morte, autores descordam sobre como
esta teria acontecido. Afirma-se que ele poderia ter sido assassinado por uma
mulher, um antigo desafeto, ou por outro malandro igualmente perigoso. Porém, o
consenso entre todas essas hipóteses é de que fora atacado pelas costas, uma
vez que pela frente, afirmam, o homem era imbatível.
Para Zé Pelintra a morte representou “um momento de
transição e de continuidade”, afirma Ligiéro, e passa a ser assim, incorporado
à Umbanda e ao Catimbó. Todavia, a principal história que seu Zé Pelintra quer
escrever, é a da caridade, tanto aquela que ele dedicou aos seus entes queridos
e pares de sangue, como também àqueles em que deveu um auxílio e apoio mútuo
quando em vida. É assim que seu Zé Pelintra, hoje ao lado do espírito dos seus
irmãos e irmãs em vida, formaram uma bela Falange de malandros de luz, que vêm
ajudar aqueles que necessitam.
Fonte: http://orixasdearuanda.wordpress.com
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