Lapa, Amor e Malandragem
Feijão com arroz, goiabada com
queijo, Lapa com… boemia. Impossível pensar uma coisa sem a outra. A noite bem
vivida, o pecado rasgado, a malemolência do samba, a síntese perfeita da
carioquice - está tudo ali, na Lapa, ao alcance até dos engravatados e das
enfatuadas, que cruzam o bairro durante o dia, no azáfama do cotidiano.
Lapa da malandragem,
criminalidade inocente se comparada com a guerra urbana vivida nos dias de
hoje; dos becos e ladeiras, onde se guardam todas as preciosas histórias de um
Rio boêmio e de bem com a vida e seus prazeres.
Lapa dos Arcos, pondo diante dos
nossos olhos a densidade do passado ido e vivido porém presente; dos bares onde
a saideira é eterna; dos conflitos envolvendo quem não leva desaforo pra casa.
Lapa de Miguelzinho, Meia-Noite,
Edgar - malandros históricos; de Madame Satã, contraditória mistura de macheza
valente com sensibilidade homossexual; da igreja de uma torre só, vítima inocente
na briga de Floriano.
Ah, Lapa de todos os amores! Lapa
da linda visão oferecida aos que passeiam suas saudades descendo no bondinho de
Santa Tereza.
A Lapa é o coração do Rio, onde
se encontram, sentimental e democraticamente, os que vêm da zona sul com os que
vêm da zona norte.
Todos nós, cariocas, amamos a
Lapa, somos a Lapa, com seus contrastes, lugar especial que o espírito do Rio
sobrevoa, livre, leve, solto, bem-humorado, sentindo-se bem nessa zona livre de
todas as censuras.
A Lapa, sedutora e matreira, se
renova, convivendo numa boa com as novidades da cidade. Mas não tem jeito: no
fim de cada madrugada, quando os albores da manhã dissolvem as trevas e trazem
o imperioso chamado do trabalho, os mais sensíveis ainda podem ter uma visão do
malandro entrando por um dos becos, com seu chapéu de lado, a mulata pendurada
no braço e a eterna navalha no bolso.
Antes de sumir na bruma, o
malandro parece nos acenar, demonstrando o orgulho de ser carioca... e de ser
da Lapa.
Por
J. Carino Professor Universitário
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