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terça-feira, 23 de julho de 2013
Multiplicando Recursos - Por Zé Pelintra
Seus recursos materiais andam escassos?
Você anda na canseira de tanto correr atrás de pagar as contas?
Não tá sobrando nada pra um respiro, uma folga, muito menos pra um
lazer?
Então, vamos conversar um pouco, tá bom?
Primeiro, que fique bem claro que não estou aqui pra julgar ninguém. Sou
apenas um irmão e amigo, e quero oferecer ajuda, aplicando a experiência que a
Vida me deu. Você é livre para aceitar, ou não. Quero dividir isso com você,
mas respeito a sua liberdade de pensar diferente. Enfim, um dedo de prosa não
vai fazer mal a ninguém… Então, vamos lá.
Você corre atrás do dinheiro?
Fica aflito porque as contas a pagar são maiores do que as entradas de
recursos?
Quase posso escutar a resposta:
“- É, Zé Pelintra, por aqui as
coisas são assim, a gente tem que correr atrás…Que malandro é você, que
não sabe disso?”…
Bom, meu amigo, pra começo de conversa, “malandro” não é vagabundo.
Malandro é aquele que aprende a se adaptar, que aproveita tudo o que lhe
acontece, pra transformar aquilo numa riqueza de conhecimento e aprendizagem.
Eu me lembro, sim, como são as coisas “por aí”, porque não sou nenhum
caduco e nem hipócrita!… Já fiz muita besteira, mas trato de ficar
atento pra não recair nas mesmas bobagens. E tudo aquilo que se aprende, é
preciso passar adiante, pra que o povo todo vá melhorando também. Precisamos
engrossar as águas da Prosperidade, fazer delas um rio imenso e largo, onde
todos possam navegar e crescer!…
Eu me lembro dos tempos de encarnado, como me lembro! Da afobação, da
mania de “ser Deus” e querer resolver tudo sozinho… Resultado: canseira,
abatimento, desgosto, até alguma revolta… Êta tempo perdido, meu
Paizinho Oxalá! Mas não é porque fiz burrada que você tem de fazer também, não
me use como exemplo, até porque também fiz coisas boas… Depois de
um tempo, fui aprendendo a não querer fazer tudo sozinho, a confiar nas Forças
Divinas que moram dentro da gente e por fora também.
Então, tem um segredo que não é segredo, é uma Magia que vive dentro de
todas as pessoas e que elas só precisam aprender a despertar pra serem mais
felizes. Isso eu aprendi um pouco na carne e mais um pouco no chamado “astral”.
Mas não me faço de rogado, e vou ensinar, que isso me dá muita alegria, só de
imaginar os filhos melhorando na vida e ficando mais em paz…
Então, vou ensinar uns “truques de malandro”.
É o seguinte: comece por lembrar que você é um filho de
Deus. Os filhos são herdeiros dos pais, não são? Então, você, eu e todas as
pessoas, nós somos herdeiros de Deus e de toda a Riqueza que Ele
representa.Você deixaria um filho seu passando necessidade, no caso de poder
ajudar ele? Claro que não! E é claro que Deus não faz isso!
Deus provê, Deus dá, Deus ajuda a quem precisa de ajuda! Mas Ele só pode
nos ajudar quando pedimos ajuda, quando a gente é humilde o bastante pra se
colocar perante a Criação de um jeito amigo e amoroso. Você tem feito isso, ou
acredita que precisa resolver tudo sozinho, senão a coisa vai pro brejo?
Não se zangue, por favor, mas pense um pouco sobre o jeito que você leva
a sua vida. Você confia em Deus? Você acredita que veio Dele e vive Nele, como
tudo o que existe, e que vai estar sempre Nele, na carne ou fora da carne, a
todo o momento? É preciso ter essa confiança pra se viver bem. É preciso uma
entrega de alma, antes de se fazer qualquer coisa!…
Não fique isolado, com o peito trancado, ruminando amargura e tristeza!…
Vamos fazer “um trabalhinho” pra desamarrar tudo
isso e tirar você desse aperto…Vem comigo, estamos juntos nessa, e
sempre que você precisar.
Então, se recolha num lugar calmo e pegue um pedaço de papel branco e
sem linhas. Escreva ali tudo o que você precisa: as contas a pagar,
quanto é, quando vence, e coisa e tal. Escreva tudo…
Respire algumas vezes, com calma, pensando na Riqueza de Deus que criou
esse mundo que você conhece e também todos os mundos e realidades…
Respire outra vez, com calma, e sinta que você faz parte disso tudo, que
você é parte dessa Riqueza, que você NÃO está sozinho e nem largado no mundo!… Respire
de novo, com calma, e procure pela Paz Divina dentro de você, coloque ela aí no
seu peito e no seu coração…
Então, pegue o papel nas mãos, fique de pé, e levante ele acima da sua
cabeça, com um pensamento firme, dizendo em voz alta:
Neste instante, eu apresento ao meu Criador, que é Deus, e aos Sagrados
Orixás as minhas necessidades mais urgentes.
Entrego tudo isso para a Inteligência Criadora, pedindo as bênçãos da
Prosperidade de Deus, que também é minha Mãe.
Peço que despertem em mim a vontade firme, a capacidade e as energias
Sagradas que me farão atrair os recursos que preciso para alcançar o que
preciso.
Sei que meus talentos espirituais e materiais serão abençoados,
despertados e multiplicados, para que eu realize o que preciso.
Sei que a Luz de Pai Oxalá vai iluminar meus caminhos, para esta realização.
Sei que a Espada de Pai Ogum vai abrir meus caminhos, para esta
realização. Sei que o Poder de Atração de Mamãe Oxum vai atrair para a minha
vida os recursos necessários para esta realização, despertando em mim o Amor
que tudo cura e liberta.
Sei que o Divino Criador e todos os Orixás estão comigo, me guardando e
amparando pelo alto, pelo embaixo, pela direita, pela esquerda, no centro e no
em torno de todos os caminhos, para que eu alcance esta realização.
Eu confio, eu aceito, eu entrego e agradeço!
Sei que essa Riqueza me pertence por direito Divino porque sou um filho
de Deus, e assim eu quero viver.
Amo e agradeço a Vida por estar aqui e viver essas experiências.
Eu respiro a Prosperidade de Deus.
Eu vivo na Prosperidade de Deus.
EU SOU a Prosperidade de Deus, aqui e agora, e para sempre!
Que assim seja, porque sempre foi, e assim será!
Então, respire de novo com calma, se acalme…
Pegue o papel e risque nele uma cruz de quatro braços iguais, usando um
lápis comum (grafite) ou então uma pemba branca. Dobre o papel em cinco partes,
já atraindo as Energias da mudança para melhor, na Força de Pai Ogum.
Se tiver um quintal ou um vaso com planta, enterre o papel ali―
simbolizando que os seus recursos vão brotar, que a sua vida vai ganhar
estabilidade, que nada vai lhe faltar jamais. Pense firme. Deixe o papel
enterrado, não precisa mexer nele. Você já entregou seu pedido, e vai continuar
fazendo apenas a sua parte. O que entregou, está entregue, não está mais em
suas mãos, está nas Mãos de Deus que tudo pode! Confie!
Caso deseje, você pode firmar uma vela branca, em seguida à oração,
colocando seu nome escrito num copo com água à direita da vela. Siga seu
coração. Depois que a vela queimar, despeje o copo em água corrente e agradeça.
Caso não tenha o vaso com planta, pegue um copo com água filtrada― ou
fervida e já esfriada―, ponha 7 punhados de açúcar, com a mão direita, saudando
o Criador e os Orixás, e deposite o papel na água. Deixe esse copo por 7 dias
num lugar que ninguém mexa; depois, vá trocando a água e o açúcar,
a cada semana, até completar 21 dias. Na troca, repita a oração. Você pode
renovar este ritual do copo quando sentir necessidade, até ganhar confiança.
Mas creia, basta pedir uma vez, com humildade, respeito e confiança, que Deus vai
lhe atender!
Faça com Fé. Não fique perguntando “Como vai ser? De onde virão os
recursos?…”. Os recursos sempre existiram, a gente é que não sabia, não
nos ensinaram que podíamos atrair a Riqueza de Deus pra nossa vida!… Mas
agora você sabe, você crê, você confia, e você faz e consegue!
Acredite, tente, faça diferente!
A sua confiança em si mesmo e na Vida vai crescer. E tudo vai melhorar!…
Mexa esse corpo, acalme as idéias, peça ajuda! Continue fazendo o que
pode, que Deus fará o que você ainda não sabe e não pode fazer sozinho, pois é
desse jeito que a Vida funciona…
E toda vez que pegar no seu dinheiro, na sua comida, nas suas roupas, em
tudo que você já tem, lembre-se: tudo é a Presença de Deus na vida
da gente, tudo é bênção. Agradeça pelo que tem, para fabricar e atrair energias
Sagradas de mais e mais Abundância e Prosperidade. É assim que funciona…
E nunca lamente pelas contas a pagar, mas agradeça por tudo que já
recebeu, pelas coisas que utilizou e comprou e pelos benefícios que aquilo
trouxe pra sua vida.
Faça a sua parte, como um filho da Luz de Deus, que a Luz vai lhe
abençoar cada vez mais.
Que OLORUM e os Sagrados Orixás lhe dêem muita Paz e Prosperidade!
Fique na Paz!
Zé Pelintra (09/03/2012.)
Escrito por Maria de Fatima
Fonte: Instituto Cultural Sete
Porteiras do Brasil
domingo, 7 de julho de 2013
O Malandro
A Linha dos Malandros da Umbanda traz para dentro
do ambiente Sagrado os excluídos da sociedade. Espíritos que em alguma
encarnação, por conta do preconceito racial, foram considerados párias e
marginalizados pela sociedade, mas que lidaram com essa adversidade sem perder
sua Fé, sua identidade e seu bom humor, certamente que já apresentavam um bom
nível pessoal de evolução. E após desencarnarem continuaram suas
evoluções, até alcançarem um Grau perante a Espiritualidade, o qual lhes
permitiu voltar à Terra na condição de Guias Espirituais, para nos reconduzir
ao Divino.Ao mesmo tempo, a Linha dos Malandros simboliza a aproximação dos
excluídos com o Divino e ainda, para todas as pessoas, a possibilidade de uma
reflexão sobre o preconceito e as exclusões sociais.
Mas, afinal, alguns se perguntam o quê um
“malandro” teria para nos ensinar, qual seria a sua contribuição dentro da
religião? Primeiro, cabe lembrar que não estamos falando do “malandro” no
sentido vulgar da palavra. Os Espíritos que se apresentam na Umbanda
dentro da Linha que corresponde ao Grau Malandro (com “M” maiúsculo!) vêm nos
ensinar a flexibilidade, a capacidade de adaptação diante dos obstáculos, o
“jogo de cintura” e o bom humor, que se obtêm através do sentimento de Fé na
Vida e em si mesmo e do equilíbrio das emoções, dos pensamentos e dos
sentimentos. De alguma forma, em algum momento das suas existências, eles
vivenciaram tudo isso e podem nos auxiliar.
Malandros nos ensinam: que a vida é feita de
experiências e toda experiência visa a nos ensinar algo de positivo; que não há
obstáculos insuperáveis, pois isso nos condenaria à destruição, o que é
inconcebível porque não há “morte” em nenhum ponto do Universo e sim,
transformações que promovem renovação e evolução constantes;q ue é preciso
confiar nas Leis da Vida e manter a alegria e o bom humor, para estar em
sintonia com faixas vibratórias positivas e atrair a cura espiritual,
emocional, mental e física, pois todo filho de Deus é um co-criador. Sua
linguagem é altamente simbólica. Muitas vezes, eles falam conosco e comparam a
vida a um jogo de cartas ou de dados:
Nesse “jogo”, uma “jogada” ruim seria um
imprevisto, uma adversidade. O que não significa a perda da partida (motivo
para desespero, descrença e desistência), pois a próxima “jogada” (a nova
oportunidade, o próximo passo) poderá ser melhor, só depende de nós; é
preciso estar atento a cada passo, observando o “adversário” (o desafio
externo, bem como os próprios pensamentos, convicções, emoções e sentimentos),
para se enfrentá-lo em melhores condições e se alcançar “a vitória”; onde
“A vitória” pode ser a superação do obstáculo em si. Mas a grande “vitória” é o
entendimento das causas da dificuldade e a aceitação da nossa responsabilidade
por essa realidade que de algum modo criamos. O erro ensina e nos dá
oportunidade de recomeçar e acertar.
No caso de uma derrota, saber esperar outra
oportunidade e tentar de novo, sem nunca desistir. Podemos “virar o jogo”
através da persistência, da alegria e da Fé no amanhã. É a valorização da vida,
da própria existência, do momento atual e de cada momento. O seu “gingado”, a
sua musicalidade, a sua dança e a sua “malandragem” não são simples repetição
das características “dos malandros do mundo”, vamos dizer assim. Esses
Espíritos não estão entre nós para fazer apologia do que foram, possivelmente,
em alguma encarnação, mas para nos ensinar o que é possível extrair das lições
da vida. A grande “malandragem” que eles nos ensinam é como sermos flexíveis,
nos desapegando e abrindo mão de idéias antigas, para nos renovarmos a cada
dia; encarar a vida com leveza, sem guardar rancores e levar tudo para o campo
pessoal; não perder o humor e estragar um dia por causa de um obstáculo, por
maior que pareça; aprender com os próprios erros, para não repeti-los, pois
quem anda atento na vida não vive caindo em buraco...
No aspecto social, a Linha dos Malandros simboliza
a inclusão de negros, mulatos e mestiços que viviam marginalizados em
nossa sociedade desde o período pós-abolição. Claro que os Espíritos que
tiveram uma encarnação assim, como excluídos, continuaram evoluindo e não
precisam ser “incluídos em nosso meio social”. Nós é que precisamos refletir
sobre as exclusões que já aconteceram e ainda acontecem por aqui, baseadas em
preconceitos, para não repeti-las. E só alcançaremos isso a partir de uma
conduta fraterna e de respeito integral ao “outro”. Por outro lado, a presença
desses Espíritos nos Terreiros de Umbanda, acolhendo a todos com sua alegria e
suas magias, é um braço de atração dos mais humildes, que se identificam com
essa maneira despojada de ser, despertam a autoconfiança e podem melhor
se expressar e progredir. Existiria melhor exemplo de “aprender com os
erros”?
Quanto à questão social, vale lembrar que a
“abolição” da escravatura não pôs fim ao preconceito racial. Historicamente,
continuou existindo em nosso país um preconceito velado em relação aos homens e
mulheres de pele negra, aos mulatos e aos mestiços.
Não se pretende, aqui, discutir a validade da Lei
Áurea, que libertou os escravos no Brasil, enquanto ferramenta jurídica. Na
época, o advento dessa Lei foi importante porque seus infratores passaram a ser
considerados criminosos, e isto encerrou um capítulo sombrio do nosso passado.
Mas o entendimento de que todos somos filhos de Deus e iguais perante a Lei e a
Justiça Divinas não é algo que se alcance por meio de leis humanas, por mais
bem intencionados que estejam os seus autores. Isto só se alcançará com a expansão
de consciência de cada ser humano, com o decorrer do tempo e a vivência das
lições que a Vida Maior nos proporciona. A “libertação” de opressores e
oprimidos vem da expansão da consciência: conhecendo sua origem e natureza
Divina, o ser humano se desinteressa pelo desejo de posse a qualquer custo e,
aí sim, começa a se “humanizar”, começa a compreender a razão de existirmos e a
agir como quem é Um com o Todo.
Enfim, com o decreto da abolição no Brasil, um
imenso contingente de homens e mulheres recém libertos não conseguia uma
colocação de trabalho remunerado. Antigos escravocratas defendiam a idéia de
que os negros só renderiam se forçados a trabalhar, como no tempo da
escravidão. Houve uma propaganda intensa no sentido de que seria muito melhor trazer
para cá os colonos europeus, obviamente brancos. Os europeus vieram e ocuparam
a maior parte das colocações de trabalho, sendo sempre preferidos em relação
aos ex-escravos. Destes últimos, a maioria ficava sem uma ocupação condigna e
sem acesso às escolas e a um aprimoramento, enquanto alguns conseguiam apenas
ocupações menores. Em consequência, pouco a pouco se formaram os primeiros
grandes grupos de pessoas colocadas a viver à margem da sociedade brasileira.
Depois da abolição dos escravos e no correr dos
anos, a idéia de que os negros e seus descendentes eram preguiçosos e menos
capazes de aprender do que os brancos foi um pensamento disseminado em boa
parte do nosso meio social. Fato é que a mão-de-obra escrava sempre deu conta
de enriquecer os que dela se utilizavam; sinal de que os escravos, mesmo em
condições absolutamente adversas, tinham competência no que faziam... Mas por
toda a parte, no mundo, então se insinuava uma perigosa teoria: a “da
supremacia racial branca”, que de certa forma contaminou o nosso país.
Existia no Brasil, à época, um clima de
discriminação muito pesado, embora silencioso. Não havia, propriamente,
episódios de violência física contra os negros, mulatos e mestiços, ao
contrário do que ocorria em muitos países. Mas os costumes sociais sinalizavam
no sentido de que era preciso “alisar o cabelo” para se ter boa aparência; que
a música, a dança e o gingado dos negros “não eram boa coisa” etc. etc. Essa
propaganda infeliz pretendia fazer com que os negros, os mulatos e os mestiços
negassem sua identidade, forçando-os a “um branqueamento”. Afinal, para os
opressores de sempre, a grande meta era continuar a escravizar e a melhor forma
de fazer isso era pela via indireta, ou seja, fazendo com que os excluídos se
sentissem inferiores e se colocassem em posição subalterna perante a sociedade
que “os libertara”. Irônico? Não, apenas triste, muito triste esse capítulo da
história do nosso país...
De alguma forma, os poderosos da época continuaram
a vender a idéia de que aquelas pessoas eram inferiores. Os ideais dos
Inconfidentes e dos Abolicionistas, que algum tempo antes comoveram e
convenceram a muitos sobre o absurdo da escravidão humana, culminando com o
advento da Lei Áurea, aqueles ideais agora ficavam para trás, esquecidos,
sepultados sob a voracidade da sede de poder dos capitalistas extremados. Tudo
o que importava era o lucro pelo lucro. Desqualificando, dessa forma, a
mão-de-obra dos recém “libertos”, os detentores do poder político-econômico
tomavam-lhes força de trabalho em troca de quase nada, porque muitos se
sujeitaram a isso para não morrer de fome...
De qualquer maneira e de modo geral, aquelas
pessoas e seus descendentes não eram bem vistos. E, com o tempo, vão surgindo
as rodas da marginalidade. Não, necessariamente, a marginalidade do crime. Mas
uma condição de vida à margem do quadro social. A música e a dança apreciadas
por aqueles que a sociedade marginalizava não eram bem vistas, nem as suas
atividades de recreação (jogos, carteado, capoeira etc.); e então surgiram
grupos localizados para essas atividades. Frequentá-los, muitas vezes, era
motivo bastante para ser alvo da polícia. Obviamente que esses lugares acabavam
atraindo também pessoas já antes voltadas para o crime. Esses locais acabaram
por tornarem-se perigosos o bastante para explicar que muitos de seus
frequentadores andassem armados, ainda que não fossem propriamente criminosos.
Daí dizer-se que os “malandros” andavam com faca ou navalha etc.
Quando se fala em “malandro”, na linguagem
cotidiana, a primeira idéia que nos ocorre é a do boêmio, do jogador inveterado
de cartas ou de dados, do amante da noite, da música e das rodas de danças, que
vivia de expedientes, carregava navalha ou faca e fugia da polícia. O
“malandro” carioca faz lembrar aquele que vivia na Lapa, que gostava de samba e
passava as noites na gafieira, chegando a ser personagem de peças teatrais, de
músicas e de muitas histórias. Já o “malandro” de Pernambuco vivia nas danças
do côco e do xaxado, passando as noites no forró. O que eles têm em comum? Eram
todos marginalizados pela sociedade, vistos como “gente à toa”. Porém,
sobreviveram a esse clima adverso, vivendo sem acesso a uma boa instrução ou a
bons empregos; nem sempre conseguiram, senão com muita dificuldade, dar alguma
instrução aos filhos. Nem por isso perderam a alegria, o gosto pela música e
pela dança, pelo carteado, pela conversa noite adentro, de alguma forma
conseguindo manter suas raízes religiosas e tradições ancestrais, dando “um
jeitinho” de ser felizes.
Por trás dos arquétipos da Umbanda, vamos
encontrar, no mais das vezes, a Mão da Espiritualidade Superior a corrigir
grandes equívocos e injustiças sociais e a nos fazer refletir, enquanto nos
auxilia nos problemas do cotidiano. E hoje temos, na presença da Linha de
Malandros, uma excelente oportunidade de refletir sobre algumas questões, em
especial: primeiro, que nem tudo que parece ruim de fato o é; e segundo, que de
tudo se pode extrair algo de bom e de positivo. Do que poderia ter sido uma
experiência de todo ruim, esses Espíritos extraíram uma lição de flexibilidade.
E aquilo que para uma sociedade hipócrita parecia ser neles um mal era, muito
ao contrário, a prova de valor de um povo que manteve fidelidade às suas raízes
e não se deixou vencer pelo meio hostil. Os Malandros vêm até nós, pelas
Mãos do Alto, para nos ensinar “a boa malandragem”: fazer limonada com os
limões azedos que recebemos dos outros; escorregar e levantar rapidinho, sem
perder a compostura e a elegância, e já sair dançando e cantando; aprender
jogar “o jogo da vida” e ser um bom parceiro de jogo, aprendendo a rir das
tristezas e de si mesmo; assumir ser o que se é, sem hipocrisias, e fazer todo
o Bem que se possa; não se prender a padrões e valores externos, mas ficar
centrado em si mesmo e na sua Fé, sem nunca desacreditar da Vida Maior, cujo
amparo permeia todos os nossos caminhos diários. Pensar que os Malandros podem
nos ensinar tudo isso brincando, de um jeito tão despojado, é o bastante para
se quebrar velho ditado que dizia: ”de onde não se espera é que não sai nada”.
Porque as aparências enganam!...
Então, não vamos viver de aparências e nem pelas
aparências. Vamos viver a vida com Amor, Respeito e Fé. Vamos acreditar em
nosso poder interior, que é Deus em nós. Vamos aprender a nos centrar e a nos
conhecer intimamente, despertando nossas capacidades e valores acumulados ao
longo desta e de outras encarnações e que ainda dormem dentro de nós, mas que
podem ser despertados pelo nosso querer, por nossa vontade de superar as
dificuldades, por nossa firme determinação de curar nossos pensamentos menos felizes
e de encontrar respostas para as nossas necessidades, para enfim chegarmos a um
caminho de felicidade, aqui e agora. Quando se está na frente de um Malandro da
Umbanda, é bom que a gente reflita sobre isso.
Essas Entidades estão entre nós por um recurso da
Misericórdia Divina, trabalhando pela continuidade da própria evolução e também
em nosso favor. Então, nada de o consulente adotar “julgamentos apressados”, no
sentido de que se poderia pedir a eles algum mal, um trabalho de magia negativa
ou coisa do gênero. E nós, médiuns, não podemos cair na bobagem de achar que
podemos dar vazão aos nossos impulsos menos nobres e começar a usar de
palavreado chulo, ou desandar a beber e a fumar etc. etc., sob o pretexto de
que foi “o malandro” (aqui, com “m” minúsculo, porque um Malandro, um Guia de
Umbanda, não faz isso nunca!...).
Vamos recordar que os Malandros são Espíritos a
serviço da Luz que vêm nos guiar, orientar e auxiliar; e que um Guia é sempre
alguém mais elevado do que nós. Precisamos nos conduzir com honra, respeito,
devoção e gratidão aos nossos Guias de Umbanda, para darmos continuidade à
nossa evolução. É preciso estar no Terreiro, com em qualquer Templo, de alma e
corpo presentes, por inteiro, pra valer. Os Malandros são simples,
amigos, leais e verdadeiros. Mas se alguém pensa que pode enganá-los, então é
desmascarado sem a menor cerimônia e na frente de todos, porque os Malandros
não toleram a maldade, a injustiça ou a tentativa de se enganar aos mais
fracos. Nos Terreiros que adotam vestimentas características, quando
incorporados em seus médiuns, os Malandros se apresentam vestidos com camisas
listradas, alguns com camisas de seda, outros de terno e gravata brancos e
chapéu ao estilo Panamá e às vezes de palha. Usam sapatos brancos, ou então
bicolores (branco/preto; preto/vermelho) e gravata vermelha. Alguns usam
cartola; outros, uma bengala (cajado).
Manipulam magisticamente fumos como charutos e
cigarrilhas; e bebidas que vão desde aguardente, cervejas, batidas, batida de
côco, conhaque até uísque. São cordiais e alegres. Parecem dançar a maior parte
do tempo, mas com seus movimentos estão é recolhendo negatividades e
purificando as pessoas e o ambiente.
Podem se envolver com qualquer tipo de assunto e
têm capacidade espiritual bastante elevada para resolvê-los. Trabalham para
curar, desmanchar magias negativas, proteger e abrir caminhos. Atuam muito na
cura de problemas de cunho espiritual e emocional, particularmente no campo das
chamadas doenças mentais (ansiedade, fobias, depressão, síndrome do pânico,
compulsões, esquizofrenia etc.), pois seu magnetismo é bastante eficaz sobre os
distúrbios originários de desequilíbrios do Sentido da Fé.
De modo geral, os Malandros se apresentam com uma
fita vermelha no chapéu. Mas os que atuam na cura usam uma fita branca, símbolo
do curador, ligado ao Pai Oxalá. Dentro da Linha existem também as
manifestações femininas, das quais Maria Navalha e Maria do Cais são os
exemplos mais conhecidos. Como regra geral, os Malandros não são Exus. São Entidades
que integram Linhas de Trabalho distintas. Mas alguns Malandros se manifestam
nas sessões de Esquerda, junto com os Exus.
Uma figura bastante conhecida dentro desta Linha é
Seu Zé Pelintra. Seu Zé, como é conhecido popularmente, é uma Entidade
peculiar, pois tanto se manifesta na Direita quanto na Esquerda. Na Direita,
ele vem como Malandro mesmo, ou como Baiano, ou ainda como Preto Velho
quimbandeiro (isto é, voltado para o corte de magias negativas). E pode vir na
Esquerda, como Exu. Por que será? Ora, uma das grandes características dos
Malandros não é a flexibilidade? Pois então... Seja como for, ele é um Guia a
serviço da Luz.
Já no Catimbó, Zé Pelintra é “doutor”, é um
curador, é um Mestre da Jurema bastante respeitado. Na Jurema, Seu Zé
Pelintra não tem a conotação de Exu, a não ser quando a reunião é de Esquerda,
porque os Mestres da Jurema têm essa capacidade de pode vir tanto na Direita
quanto na Esquerda. Na Esquerda, os Mestres vêm para cortar o mal. No Catimbó,
Seu Zé usa bengala (que pode ser qualquer cajado), cachimbo e faz uso
ritualístico da cachaça. Dança côco, baião e xaxado e abençoa a todos, que o
abraçam e o chamam de padrinho. A personagem principal da “Ópera do Malandro”,
de Chico Buarque de Holanda, ao que consta, foi baseada nos modos e trejeitos
de Seu Zé Pelintra.
Contam-se muitas estórias sobre quem teria sido Zé
Pelintra quando encarnado. Alguns dizem que viveu em Pernambuco, outros afirmam
que viveu no Rio de Janeiro. Porém, não podemos nos esquecer de que dentro da
Linha dos Malandros, como nas demais Linhas de Trabalho da Umbanda, estão
agrupados espíritos que tiveram encarnações diferentes entre si. O ponto
central é sabermos que esses Espíritos não estão presos a seus antigos nomes e
sim, que foram agrupados a partir de suas afinidades vibratórias e evolutivas e
de suas especialidades (campos de atuação). Quanto à sua morte, autores
discordam sobre como esta teria acontecido. Afirma-se que ele poderia ter sido
assassinado por uma mulher, um antigo desafeto, ou por outro malandro
igualmente perigoso. Porém, o consenso entre todas essas hipóteses é de que
fora atacado pelas costas, uma vez que pela frente, afirmam, o homem era
imbatível
Nomes Simbólicos: Zé Pelintra, Zé Malandro, Zé do Côco, Zé da Luz,
Zé de Légua, Zé da Silva, Zé Moreno, Zé Pereira, Zé Pretinho, Malandrinho,
Camisa Preta, Camisa Listrada, Sete Navalhas, Malandro do Morro.
Algumas Entidades Femininas que se manifestam nesta
Linha:
Maria do Cais, Maria Navalha etc.
Dia da semana: Não há um dia específico, tendo em vista que a
Linha tem um campo de atuação muito vasto e se manifesta tanto na Direita
quanto na Esquerda. Os Malandros que trabalham na cura costumam ser mais
associados ao sábado, regido por Saturno e Urano, planetas relacionados ao
Orixá Obaluayê. Já os que trabalham no corte de demandas têm uma associação
mais direta com a terça-feira, regida por Marte e relacionada aos Orixás Ogum,
Yansã e Omolu.
Campo de atuação: Limpeza energética, purificação e equilíbrio;
quebra de preconceitos; desapego; corte de magias negativas; abertura de
caminhos para a prosperidade em geral (espiritual e material); cura espiritual,
emocional, mental e física.
Ponto de Força: O Ponto de Força dos Malandros é na subida de
morros, nas esquinas e encruzilhadas, aos pés de coqueiros e até em cemitérios,
dependendo do seu campo específico de atuação.
Cor: Branco/preto; branco/vermelho; vermelho/preto.
Guias ou colares: Suas guias ou colares podem ser de vários tipos,
tais como: confeccionadas com coquinhos; dados, de contas de porcelana
vermelhas e pretas, ou vermelhas e brancas, ou ainda pretas e brancas; de
sementes (olho de cabra, olho de boi, obi branco); de pedras; de palha da costa
com búzios.
Elementos de trabalho: Baralho, moedas, dados, palitos,
palha da costa, pedras, pembas, sumos de ervas, barbante, linhas, fitas,
búzios, sementes, côco, água de côco, terra, dendê, azeite de oliva.
Ervas: Quebra demanda; arruda; guiné; comigo-ninguém-pode;
aroeira; palha da costa; levante; anis estrelado; algodoeiro; tapete de Oxalá;
alecrim; jasmim; manjericão roxo; folha de bambu; folhas de laranja e de limão;
folha de café; folha e semente de cacau; folha de beterraba; rama de cenoura;
café em grão e em pó; urucum; folha de pitanga; folhas de palmeira e de
coqueiro; folha de bananeira; tiririca; barba de velho; raízes; cipós; cabelo e
palha de milho; louro; losna; agrião; coentro; orégano; noz moscada; pára-raio;
espada de São Jorge; espada de Santa Bárbara; lança de São Jorge; mentas
(vários tipos de hortelã); boldos (vários tipos); ervas amargas; salsinha.
Sementes: Olho de boi, olho de cabra, obi branco (ou
noz de cola).
Fumo: Charutos, cigarrilhas, fumo de corda, cigarros,
ervas enroladas na palha.
Pedras: Variam, dependendo da forma de manifestação da
Entidade Malandro.
Para os que vêm como Baianos: Quartzo branco leitoso; Cristal;
Jaspe Vermelho; Granada; Citrino; Pirita; Topázio Imperial. No geral, as pedras
brancas, vermelhas e amarelas- embora eles possam manipular muitas pedras
diferentes, de acordo com a necessidade do trabalho.
Para os que vêm na Esquerda: Ágata Preta,
Turmalina preta, Vassoura da Bruxa, Ônis, Quartzo Fumê, Mica Preta.
Para os curadores: Pedras brancas (Quartzo Branco transparente e
leitoso, Calcita Ótica, Topázio Branco); Pedras índigo (Lápis-Lazúli, Sodalita)
e ou Pedras violetas (Ametista, Cacochinita, Fluorita Lilás).
Flores: Rosas e cravos vermelhos e brancos; flores
vermelhas e amarelas.
FONTE:
Angélica Lisanty, livros: “Os Cristais e os Orixás”, 2088, páginas 83/85;
“Elixir de Cristais”, 2006, páginas 101/113, ambos da Madras Editora.
...E elas é que dão as Cartas! Salve as Malandras!